SEGUIDORES

terça-feira, 16 de abril de 2024

Bocejo de primavera





Se não te ouvisse
os corais não falavam das cores
que migram na tatuagem dos segredos

Se não te ouvisse
o nevoeiro não exalava a voz
no gemido da cegueira
dos rebentos por nascer.

Escutando,
falo com os corais que não vejo
e os segredos que esqueci.
Por entre a neblina
escuto o cheiro das roseiras
grávidas de flores e espinhos.

Agora
deixa-me escutar o cheiro das magnólias
no artificio das flores brancas
no bocejo da primavera.
          
 

            texto-manuela barroso
           arte-christian scholoe

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Era Madrugada em Lisboa


                            Muitos Parabéns, Graça Pires pela forma como abordaste o tema.


 

O livro de Graça Pires é daqueles casos em que não nos contemos a saborear uma só poesia tal é a fome que ele desperta. Daí que o lesse com avidez. E pensei:na verdade, como dizia a Natália Correia , " a poesia também é para comer".

Senti uma enorme dificuldade na escolha mas tive que optar. 



Sem prazo, sem aviso, sem detença,

aconteceu em abril

o mais esperado tempo

e, com ele, o cheiro

da terra que nos pertence.

No contorno deste chão

um grito abraçou o povo comovido

com o assombro e com os cravos.

Reinventaram-se os sonhos

e as palavras fraternas.

Era madrugada em Lisboa.

E o dia captou a dádiva da luz matinal

para que cintilasse no olhar de toda a gente.

No clamor de cada rua,

a palavra liberdade

passou de boca em boca,

até ao enrouquecimento da alegria.



Do Livro

Graça Pires,  "Era madrugada em Lisboa"

Louvor a um dia com tantos dias dentro, Poética, 2024










quarta-feira, 3 de abril de 2024

Graça Pires- Convite- Ampulheta

Com a aproximação do dia 25 de Abril- Dia da Liberdade, a Poeta Graça Pires brinda-nos com o lançamento de  mais um livro seu alusivo a este acontecimento tão marcante já no dia 7 de  Abril de 2024 às 15,00horas.
Impossível esconder a ansiedade, quer pelo conteúdo, quer pelo o estilo que já lhe conhecemos. Eis uma oportunidade excelente de convívio para quem puder estar presente! 
Parabéns, POETA! Desejamos-te muito sucesso! 



 O livro está em pré-venda através do link:
https://poeticalivros.com/collections/poesia/products/era-madrugada-em-lisboa-louvor-a-um-dia-com-tantos-dias-dentro ( Ver em ortografiadoolhar.blogspot.com)


Transcrevo um poema do Livro "ERA MADRUGADA EM LISBOA"


Eram militares.
Eram jovens.
Carregavam no peito
o peso da arma e do receio.
Quantos rezaram?
Quantos choraram?
Quantos vacilaram?
O retrato dos filhos perto do coração.
A imagem da mulher a cercar-lhes o corpo.
As mãos das mães cheias de bênçãos.
E todos tão cheios de coragem!


Graça Pires











Sobe o tempo na ampulheta da vida.

Cai o pó esférico

gota a gota

numa calma desmedida.

E as palavras sobram em estáticos sentimentos

procurando à deriva

dar forma ao pensamento.

 

Entrelaçadas nos olhos são a luz e são a cor.

Entrelaçadas nas mãos

são presença, vida, amor.

Entrelaçadas nos sons são música na poesia.

 

E na ausência de laços

eis a porta que se fecha

dentro de uma casa vazia.



manuela barroso, "Luminescências"

 

 





domingo, 31 de março de 2024

Feliz Páscoa-A minha Páscoa

                                          Páscoa Feliz para Todos/as!

   





    Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

    A paz sem vencedor e sem vencidos

    Que o tempo que nos deste seja um novo

    Recomeço de esperança e de justiça.

   …

                     Sophia de Mello Breyner Andresen

   








Tempo de Páscoa!
O azul do céu, parece mais límpido, transparente e tranquilizador.
Há um misto de serenidade e inquietude.
A Natureza associa-se ao Tempo com uma certa inconstância:ora está a acordar duma longa hibernação, numa espécie de preguiça ,ora acorda irritadiça alagando as várzeas e fazendo tremer os salgueirais.

Mas também convida,assim e quem sabe, de propósito, ao recolhimento de um passado que Agora ainda se recorda: A Morte de Jesus numa tosca cruz.

Mas a saudade vem quando, depois de comemorar a ressurreição, o Compasso visitava a minha casa, acompanhado de um tilintar de uma alegre campaínha! 

E lá vinha uma coroa de flores brancas pequeninas de um rosa ternamente suave , envolvendo Jesus numa cruz menos grotesca.
E a saudade voltou ao meu peito!

Boa Páscoa, menina...

E não era assim tão pequenina.


Manuela Barroso





quinta-feira, 28 de março de 2024

Se


 

Se a Tua existência não sensibilizou o coração dos Homens
Que a Tua morte os desperte para o mistério da Vida.


Manuela Barroso ( reeditado)